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Escola regular ou especial?

  • Foto do escritor: Nathalia Barbosa
    Nathalia Barbosa
  • 16 de nov. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 6 de abr. de 2023

São hoje 8 anos de vida escolar do Arthur. Nesses 8 anos, muita coisa mudou, eu mudei, ele mudou, mas os problemas com relação à inclusão não mudaram.

Encontramos nesse meio-tempo profissionais bons e ruins.

Nosso primeiro contato com a escola foi no período de investigação do diagnóstico, a escola parecia super prestativa, ofereceu apoio incondicional e, por um momento, eu pensei que era exagero pensar que nossa vida seria tão diferente da de qualquer outra família.


Ledo engano.


Em menos de um mês, quando tivemos acesso às câmeras de monitoramento da sala, vimos uma cena chocante. Há 3 monitoras na sala e várias crianças sentadas em uma mesa, o Arthur se levanta e deita no chão perto da porta. Quando uma coleguinha vai até ele, a monitora pega a menina e a coloca na mesa novamente. Dali, passam mais ou menos 40 minutos com ele deitado perto da porta, as monitoras indo e vindo, por cima dele, como se ele não estivesse ali.


Eu chorei, me revoltei, fui até a escola e cobrei da diretora (e dona) sobre aquele comportamento, a resposta veio:


— Se você tivesse visto 5 minutos antes, eu entrei, beijei e abracei ele.


Entendi ali, ainda sem diagnóstico, que tudo que viesse pro meu filho de outras pessoas viria com uma cobrança de gratidão. Independentemente de ser algo irrelevante ou não, eu não teria direito de reclamar, estariam me fazendo um favor.


Esta é uma das muitas histórias traumatizantes que temos sobre inclusão escolar, talvez a mais traumática por ter sido a primeira, a gente vai aprendendo e, ouso dizer, se acostumando, nossas expectativas vão diminuindo.


Veja, inclusão não é um favor, é um direito. A prioridade de matrícula para PCD não é um privilégio, é uma política de reparação histórica, a grande maioria dos nossos filhos há 40 anos estaria internada ou trancada em casa.


Inserir crianças com deficiência na escola regular é trazer para a sociedade a diversidade humana, é garantir os direitos constitucionais de ir e vir, de educação, de existência e de convívio.


É importante salientar o papel social da escola, onde pela primeira vez as crianças saem de seus núcleos familiares e são apresentadas a estruturas sociais, com diferentes realidades e papéis de autoridade, ali começa a se formar a identidade cidadã. Por isso, é importante que nossos filhos lá estejam, para que essas crianças aprendam de pequenas a conviver com as diferenças e as características individuais de forma respeitosa.


A falta de estrutura e formação para que a escola possa realmente auxiliar no processo de aprendizagem e desenvolvimento de alunos com deficiência é fato, são necessárias políticas públicas e implementação do que eu carinhosamente chamo de “cultura de inclusão”.


É preciso entender que educar obrigatoriamente é incluir, não existe o compartilhar de conhecimento sem empatia e sem o entendimento das características sociais e humanas. Logo, educar é incluir.


Escola “especial” nunca foi uma alternativa por aqui, mas compreendo, ouvindo outras mães, quem opta por ela, seja pela falta de acesso a terapias de apoio ou pelo conforto gerado pela ideia de ser “especial” e consequentemente “ideal”.


É necessário o acesso à informação de qualidade, disponibilidade e estrutura emocional para cobrar da escola regular o descolamento do modelo médico e um processo de inclusão saudável. Por isso, compreendo a escolha de algumas famílias e até a defesa das tais escolas “especiais”. O objetivo aqui é trazer um contraponto.


Apesar de complementares, a escola e as terapias devem ser separadas em vivência e metodologia. O modelo médico de apoio terapêutico, quando aplicado em ambiente escolar, ignora as particularidades da escola, ignora o ganho social de todos e, principalmente, a individualidade do aluno.


São consequências da construção de um modelo social que exige a padronização das pessoas desde a infância, onde quem é diferente é segregado, ou forçado a se adaptar à “normalidade”.


O pertencimento e a identificação de um grupo de pessoas vêm de início principalmente da convergência de sofrimentos, sejam eles capacitismo, racismo, homofobia, transfobia ou qualquer outro tipo de preconceito estrutural sofrido em uma sociedade normativa.


O processo de inclusão principalmente no espaço escolar é revolucionário no seu potencial de quebra das normas sociais atuais.

São espaços que devem ser ocupados e transformados, para que possamos construir pertencimento e identificação de forma positiva, baseados no orgulho de quem se é em suas características naturais ou culturais.


Temos grandes educadores que, mesmo não falando do termo “educação inclusiva”, já apontavam há quase um século a necessidade de entender contextos sociais e naturais no processo de educação.


Provavelmente o Arthur não viverá, no seu período escolar, o modelo inclusivo, mas auxiliar na mudança de olhar e tratamento com relação à inclusão na prática, ocupando esse espaço, renderá frutos para os que virão. E isso, para mim, é a força motriz na minha decisão de manter a escola regular como escolha.




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